Merchants Cove: Uma Viagem Inesperada Pela Baía Mais Assimétrica dos Jogos de Tabuleiro - Mundo Tabuleiro

Merchants Cove: Uma Viagem Inesperada Pela Baía Mais Assimétrica dos Jogos de Tabuleiro

Merchants Cove

Quando ouvi falar de Merchants Cove pela primeira vez, minhas expectativas estavam nas alturas. Afinal, era um jogo que prometia uma experiência assimétrica onde cada jogador vive seu próprio mini-jogo, em um cenário cheio de meeples coloridos, barcos 3D e uma estética que beira o fantástico. Como um veterano dos tabuleiros – desses que leem manuais de 30 páginas com um café na mão e um sorriso no rosto – imaginei logo um novo Root, talvez até um rival à altura de Vast, com uma curva de aprendizado desafiadora e uma complexidade de fazer suar os neurônios.

Mas aí veio a surpresa.

Depois de algumas partidas (ok, foram várias, com grupos diferentes e até sozinho no modo solo), percebi que Merchants Cove não é exatamente o monstro estratégico que eu esperava… e isso, curiosamente, acabou sendo uma das suas maiores virtudes. A promessa de assimetria é real, mas o que realmente brilha aqui é a leveza com que o jogo entrega essa diversidade mecânica. Não é um jogo pra se esfolar otimizando rotas ou estudando estratégias milimetricamente – é mais sobre se divertir com o seu personagem, explorar a cidade e ver quem faz mais ouro no fim das contas.

E é por isso que ele me ganhou. Neste artigo, vou compartilhar minha experiência completa com Merchants Cove, incluindo os altos, os baixos, e por que ele acabou se tornando uma adição curiosamente valiosa na minha coleção. Se você está em dúvida se vale a pena atracar nessa baía, vem comigo nessa resenha completa e descontraída.

A Primeira Vista: Cores, Componentes e Um Tabuleiro Gigante (Demais?)

Confesso: sou do tipo que se encanta fácil por produção caprichada. Quando abri Merchants Cove pela primeira vez, tive aquela sensação de “uau” que só os jogos bem produzidos causam. Meeples personalizados, barcos de papelão em 3D, tabuleiros individuais com layouts completamente diferentes… tudo gritava por atenção, tudo parecia prometer algo grandioso. E, nesse ponto, o jogo realmente entrega.

Mas vamos falar de espaço. Literalmente.

O tabuleiro central é enorme. Não “grande”, tipo Terraforming Mars ou Scythe. É enorme mesmo. E isso pode ser um problema real pra quem, como eu, joga em mesas de jantar, no cantinho da sala ou em eventos com espaço limitado. Em uma mesa 160×90 (sim, eu medi), ele já ocupa quase tudo. Agora imagina esse tabuleirão junto com quatro tabuleiros individuais, os tabuleiros de ajudantes, mais as peças, tokens, cartas, e claro, os barcos 3D. Juro que teve vez que precisei fazer malabarismo pra não esbarrar em nada.

Só que, curiosamente, essa “exagerada” grandiosidade acaba combinando com o clima do jogo. Merchants Cove é meio teatral: você está ali interpretando um personagem, atendendo aventureiros sedentos por mercadorias, tentando agradar as guildas locais e gerenciar o tempo como um bom comerciante multitarefa. Os componentes ajudam nessa imersão, mesmo que às vezes você sinta que está jogando num palco de teatro em miniatura.

A estética cartoonizada, com ilustrações vibrantes do Mihajlo Dimitrievski (conhecido por The North Sea Trilogy), também colabora para deixar o jogo mais acessível visualmente. Ele parece complexo, mas visualmente é acolhedor. Cada personagem tem um estilo tão distinto que você sente, de fato, estar jogando algo único a cada partida.

O problema? Às vezes parece que o jogo prometeu mais do que entrega. Mas calma, vamos falar disso no próximo bloco…

Merchants Cove

Cada Jogador, um Universo: A Deliciosa (e Limitada) Assimetria de Merchants Cove

Se você, assim como eu, é fã de jogos com facções únicas e dinâmicas completamente diferentes, Merchants Cove é um verdadeiro parque de diversões. Ou, pelo menos, parece ser à primeira vista.

A grande sacada aqui é a promessa de total assimetria: cada jogador assume o papel de um mercador com mecânicas próprias, como se fossem mini-jogos dentro de um jogo maior. E isso não é exagero de marketing – é real mesmo. Quando você joga com o Ferreiro, vai lidar com manipulação de dados. A Alquimista, por outro lado, vive um Potion Explosion com bolinhas de gude coloridas. Já a Capitã navega seus navios por um tabuleiro próprio, buscando tesouros em um jogo quase de roleta. E o casal de Viajantes do Tempo? Esses têm talvez a dinâmica mais estratégica e curiosa, brincando com movimentação de tiles e mudanças no próprio tabuleiro.

Na minha mesa, isso causou aquele típico momento de “espera, o que você tá jogando aí?”. Porque sim, é impossível não espiar o tabuleiro do vizinho e ficar intrigado com a mecânica dele. E isso gera um desejo genuíno de experimentar todos os personagens. Após uma ou duas partidas, já estávamos combinando revezamentos de mercadores só pra ver quem se dava melhor com o quê.

Mas, nem tudo são flores nessa baía encantada.

Apesar da proposta ousada, os mini-jogos não são, individualmente, tão profundos quanto poderiam ser. Se fossem lançados como jogos independentes, sinceramente, talvez nem segurassem o interesse de uma tarde inteira. São simples, funcionais, e até divertidos – mas não vão te deixar obcecado em dominar cada mecânica. Isso é um pouco diferente de jogos como Root, onde cada facção exige estudo, prática e leitura de jogo constante. Aqui, após uma partida, você já entendeu 90% do funcionamento de cada mercador.

E aí entra um dos dilemas de Merchants Cove: a assimetria encanta, mas não desafia tanto quanto promete. Para jogadores experientes, isso pode parecer um pouco superficial. Para quem está começando ou quer algo com variedade sem precisar de um curso de regras por personagem, é um verdadeiro achado.

O lado positivo é que isso torna o jogo extremamente acessível para grupos mistos. Já joguei partidas onde um novato pegou a Alquimista e se saiu melhor que um veterano no papel de Capitã. É aquela assimetria que não assusta, que diverte, mas não sobrecarrega.

Ah, e vale mencionar: o jogo base vem com quatro personagens, mas há expansões com mais três – e sinceramente, alguns desses extras parecem ter mini-games bem mais criativos e complexos. O Oráculo, por exemplo, traz um roll-and-write, enquanto o Criador de Dragões entra na onda de pet management (sim, cuidar de dragõezinhos). Ainda não explorei todos, mas já vi o suficiente pra saber que o jogo se abre mais com essas adições.

Resumindo: a assimetria de Merchants Cove é real, divertida e saborosa. Mas talvez você deseje um pouco mais de profundidade depois de umas boas partidas. Se isso é bom ou ruim? Depende do que você está procurando.

Interação, Estratégia e Poker com Meeples: Como o Jogo Gira Fora dos Tabuleiros Individuais

Se por um lado Merchants Cove entrega uma experiência quase solitária em cada tabuleiro individual – onde cada um está focado em seu próprio quebra-cabeça –, por outro, há uma camada estratégica comum que mantém todos os jogadores conectados: o tabuleiro central e o gerenciamento dos barcos. E aqui, meu amigo, é onde o jogo mostra os dentes.

A dinâmica é simples de explicar, mas deliciosamente tensa na prática: os meeples que representam os aventureiros (os clientes do seu negócio, basicamente) são sorteados aleatoriamente de um saco e alocados nos barcos. Cada barco tem espaço para quatro passageiros. Quando um barco enche, ele deve atracar em uma das docas disponíveis – e aí vem o truque: quem o completou, decide onde ele vai parar.

Pode parecer um detalhe, mas essa decisão é o coração da interação de Merchants Cove. A escolha da doca define qual mercado será abastecido com aquele tipo de aventureiro. E como cada aventureiro só compra itens da sua cor (os vermelhos querem armas, os azuis querem artefatos mágicos, e por aí vai), essa decisão pode fazer você lucrar muito… ou afundar os planos do coleguinha.

Em algumas partidas que joguei, vi jogadores completamente focados em manipular os barcos, quase ignorando a própria produção de mercadorias. E isso funcionou. Um bom jogo de “poker de meeples” pode sabotar rivais, posicionar ladrões em docas indesejadas (sim, há meeples que trazem efeitos negativos) e garantir uma venda praticamente exclusiva em um mercado inteiro. Essa dinâmica adiciona uma pitada de blefe, antecipação e, claro, um pouco de malícia – afinal, o que seria de um bom jogo de tabuleiro sem a chance de dar uma leve atrapalhadinha no adversário?

O curioso é que, mesmo com essa camada de interação, o jogo ainda passa uma sensação de “corrida solitária”. Cada um está tão imerso em sua própria mecânica que, por vezes, o impacto de um movimento adversário só é percebido alguns minutos depois. Não há confrontos diretos nem bloqueios agressivos – tudo é feito de forma indireta, com timing e inteligência.

Ah, e tem mais: o uso do tempo como recurso é outro detalhe brilhante. Toda ação consome horas no seu dia de comerciante, e o jogador mais atrás no marcador de tempo é sempre o próximo a jogar. Isso abre espaço para jogadas em sequência e decisões cruciais sobre produtividade versus eficiência. Vale a pena gastar mais tempo e produzir um item caro? Ou fazer várias ações rápidas e tentar vender mais? Aqui, o jogo recompensa quem planeja bem.

No final das contas, a parte comum do tabuleiro funciona como uma arena estratégica onde a interação, embora sutil, é intensa. Se você gosta de jogos em que é possível observar o comportamento dos outros, se adaptar e fazer jogadas de efeito, vai curtir essa parte tanto quanto eu.

Merchants Cove

Afinal, Merchants Cove é para quem? Um Peso-Médio com Alma de Festa e Coração de Família

Depois de várias partidas, com grupos diferentes – desde veteranos até casais que nunca tinham jogado nada além de Ticket to Ride – cheguei à conclusão de que Merchants Cove é um daqueles jogos difíceis de rotular. E isso, honestamente, é parte do charme. Mas vamos lá, sem enrolação: ele não é um jogo para especialistas hardcore, apesar de parecer. Nem é aquele gateway levinho para se jogar com a família no domingo à tarde. Merchants Cove vive no meio do caminho. É um peso-médio com visual de blockbuster e espírito de “quero brincar de ser um comerciante mágico por uma hora e meia”.

Durante minhas primeiras partidas, confesso que fiquei levemente frustrado. A promessa de assimetria total me fez esperar algo com profundidade estratégica no nível de Root ou Pax Pamir. Mas aí percebi que estava jogando com a mentalidade errada. O jogo não quer que você planeje 10 rodadas à frente – ele quer que você curta o seu personagem, se envolva com o teatro dos meeples e aproveite a experiência. E isso, ele faz muito bem.

É o tipo de jogo que brilha quando o grupo entra no clima. Já vi mesa onde o Ferreiro fazia vozes para vender suas armas, a Alquimista criava nomes para seus elixires e a Capitã contava histórias de suas viagens imaginárias. Quando todo mundo embarca na fantasia (com trocadilho mesmo), o jogo flui deliciosamente.

Agora, é preciso falar do elefante na sala: o tempo de setup. Merchants Cove tem uma preparação demorada, especialmente nas primeiras partidas. Cada personagem tem seu próprio manual de regras, seu próprio conjunto de peças e uma curva de aprendizado independente. Isso assusta. Pra quem tá acostumado com jogos mais diretos, é um obstáculo real. O ideal? Que uma pessoa se dedique a estudar tudo antes e faça aquele bom e velho “ensina geral”. Depois disso, a coisa flui.

E sobre o fator rejogabilidade? Ele é alto, mas depende muito de quão divertido você acha explorar novos personagens. Com o tempo, os mini-games podem ficar repetitivos – principalmente os do jogo base, que são os mais simples. A boa notícia é que as expansões trazem personagens mais ousados, e o jogo parece ter sido planejado já pensando nisso (inclusive o insert da caixa deixa espaço pra tudo, o que é raro e bem-vindo).

Por fim, o modo solo. Sim, ele existe. E não é qualquer modo solo: tem um personagem próprio, o mascate ambulante, contra quem você compete. É funcional, bem pensado, e uma ótima forma de explorar os personagens sem depender de grupo. Só que, como já falei antes… esse tabuleiro gigantesco não é exatamente prático para quem joga sozinho em uma mesinha pequena. Prepare-se pra se levantar bastante.

Conclusão: Vale a Pena Jogar Merchants Cove?

Se você busca um jogo com produção caprichada, personagens únicos e uma experiência que mistura estratégia leve com diversão temática, Merchants Cove pode ser uma adição maravilhosa à sua coleção. Ele não vai quebrar sua mente como um Lacerda, mas também não é raso como um UNO temático. É aquele meio-termo que brilha com o grupo certo: gente disposta a entrar na brincadeira, explorar os personagens e se divertir com a jornada, não apenas com a vitória.

E se você curte colecionar expansões, aqui vai um aviso: Merchants Cove é um prato cheio. As novas classes prometem ainda mais rejogabilidade, e algumas delas trazem mini-games realmente criativos. Só cuidado com o tamanho da mesa. E talvez com a carteira também.

No fim das contas, Merchants Cove não é o novo Root. Mas talvez ele nem queira ser. Talvez ele só queira ser o que é: um jogo carismático, bonito e surpreendentemente acessível – que, se você deixar, vai conquistar seu espaço na estante (e no coração do seu grupo).

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