Sabe aquele momento em que você senta pra jogar algo leve, só pra descontrair entre dois euros mais pesados? Foi exatamente assim que conheci Courtisans. A expectativa era um filler bonitinho, com arte estilosa e uma pitada de interação. Algo pra jogar dando risada, sabe? Um daqueles jogos em que você já imagina quem vai ganhar só de ver quem começa puxando carta.
Mas Courtisans me pegou de jeito.
A cada rodada, minha mesa virou um festival de farpas disfarçadas, alianças temporárias, reviravoltas e muita, muita suspeita. Em menos de meia hora, estávamos todos nos tratando como membros de uma verdadeira corte medieval — e sim, com direito a espiões, traições e até um assassinato ou dois (no jogo, claro).
E olha que falo isso com certa bagagem. Já testei centenas de jogos como redator e reviewer especializado em board games, participo ativamente de comunidades, grupos e eventos do hobby, e sou do tipo que lê manual como quem lê romance policial. E mesmo com toda essa experiência, Courtisans conseguiu me surpreender por trazer, em um jogo rápido e acessível, uma camada tática rica, cheia de decisões interessantes.
Por isso, se você também acha que já viu de tudo quando o assunto é jogo de cartas com blefe, eu te convido a continuar essa leitura. Porque Courtisans não é só mais um jogo de “quem engana melhor” — é uma verdadeira batalha de influência, onde cada carta jogada pode mudar o rumo da história.
Como funciona Courtisans? A intriga começa antes mesmo da primeira carta ser jogada
A beleza de Courtisans está no equilíbrio entre simplicidade e profundidade. O jogo é super fácil de ensinar — o que é ótimo pra apresentar pra novos jogadores — mas esconde, sob seu visual elegante, uma dinâmica estratégica cheia de nuances.
No início de cada partida, cada jogador recebe duas cartas de missão secreta. Essas cartas são os seus objetivos de pontuação no final do jogo, e já dão o tom do tipo de família nobre que você vai querer valorizar — ou sabotar — durante a partida. E aí começa a magia.
A cada turno, você compra três cartas de diferentes famílias e precisa colocá-las em três locais distintos:
- Uma vai pro seu próprio campo de jogo.
- Uma vai pro campo de outro jogador.
- E a última, pra mesa da rainha, o “tabuleiro” feito de tecido que representa o centro do poder da corte.
E é aqui que o jogo ganha uma camada tática deliciosa. Na mesa da rainha, você pode colocar a carta acima (aumentando o prestígio daquela família) ou abaixo do pano (lançando-os à desgraça). Cada decisão sua afeta diretamente o valor das cartas daquela família — inclusive as suas!
O que parecia um joguinho leve de cartas rapidamente vira um tabuleiro de xadrez social. Você observa cada movimento, tenta adivinhar os objetivos secretos dos outros, e se pega pensando duas, três jogadas à frente.
E não pense que você está no controle. Sempre tem aquele momento em que alguém joga um espião virado pra baixo e você sente um frio na espinha. “Será que ele sabe o que eu estou tentando fazer? Essa carta é pra me ajudar ou pra me ferrar lá na frente?”
No final das contas, Courtisans vira um jogo de apostas emocionais. Você tenta influenciar o mercado nobre da corte, mas tudo pode mudar se uma família cair em desgraça na última rodada. A tensão cresce conforme o pano da rainha vai acumulando cartas — e o riso, a zoeira e os olhares desconfiados também.
As cartas especiais: espiões, nobres e assassinos – quem realmente manda no jogo
Uma das coisas que me fez voltar várias vezes pra Courtisans foi a forma como ele utiliza cartas com habilidades especiais sem complicar a experiência. Sério, é impressionante como o jogo consegue ser acessível e, ao mesmo tempo, oferecer decisões com peso real. E boa parte disso vem do conjunto de cartas especiais que dão o tempero certo à jogabilidade.
Vamos começar pelo meu favorito: o Espião. Esse é o tipo de carta que transforma Courtisans num verdadeiro jogo de paranoia. Ela entra em jogo virada pra baixo, e ninguém — além de quem jogou — sabe a qual família pertence. Parece simples, mas o efeito psicológico é devastador. Já vi gente mudar completamente sua estratégia por causa de um único espião colocado na mesa da rainha. E, claro, já fui eu quem colocou a carta só pra blefar. Melhor ainda quando ela era, de fato, perigosa.
Depois temos os Nobres, que são mais “simples”, mas extremamente poderosos: valem como duas cartas na pontuação final. Às vezes, são justamente eles que você vai jogar na mesa de outro jogador, tentando convencê-lo de que está fazendo um favor… enquanto secretamente sabota a reputação da família.
E como falar de intriga sem Assassinos? Essas cartas permitem remover outra carta da mesma área. Sabe aquele combo maravilhoso que seu amigo montou com três membros da mesma família? Boom! Um assassinato bem colocado e lá se vai metade da pontuação dele. É cruel? Talvez. Satisfatório? Com certeza.
Por fim, os Guardiões. Eles são o contra-ataque direto aos assassinos, pois são imunes. Um tipo de carta que você valoriza mais conforme a partida avança, quando começa a ver que ninguém ali está realmente jogando limpo.
Essas habilidades adicionam uma camada estratégica essencial. Você não está apenas colecionando cartas: está montando um plano, antecipando jogadas adversárias e, às vezes, arriscando tudo com um blefe bem colocado. Jogadores experientes vão adorar explorar essas interações — e jogadores casuais vão se divertir com o caos.

*foto oficial site speloptafel
Interação, blefe e caos controlado: o verdadeiro tempero de Courtisans
Se tem algo que Courtisans faz com maestria é incentivar a interação direta entre os jogadores sem se tornar um festival de rancor. O jogo é cheio de momentos de “take that”, mas tudo com aquele clima de brincadeira, como se você estivesse mesmo em um banquete real tentando puxar o tapete do seu rival… com um sorriso no rosto.
Aqui em casa, já teve partida em que todo mundo jurava que estava jogando “na moral”, até que os espiões começaram a aparecer. Lembro de uma jogada em que um dos jogadores recebeu uma carta no campo dele com a seguinte frase: “confia, é boa pra você”. Resultado? Era um nobre valendo dois pontos — de uma família que, duas rodadas depois, foi jogada para a desgraça total. Ponto negativo, decepção e gargalhadas generalizadas. Esse tipo de dinâmica é o que dá alma ao jogo.
O blefe é constante. Você está sempre tentando ler os outros jogadores, entender seus objetivos secretos, e interpretar os sinais que eles estão deixando com suas jogadas. “Por que ele colocou essa carta ali?” “Será que ele quer valorizar essa família ou está armando pra gente investir nela e depois derrubar tudo?”
Essa leitura de mesa, misturada com objetivos secretos e a mecânica de valor flutuante das famílias, faz com que Courtisans se aproxime de um jogo de mercado. Você está investindo em famílias nobres, torcendo para que elas estejam em alta no final, enquanto sabota os investimentos dos outros.
E o melhor: tudo isso acontece em apenas 20 minutos. Sim, você vai rir, vai conspirar, vai blefar — e talvez até queira revanche imediata. Porque uma coisa é certa: se você for traído em Courtisans, vai querer voltar pro jogo só pra devolver na mesma moeda.
Componentes, arte e acessibilidade: luxo visual com pequenos tropeços
Quando a caixa de Courtisans chegou aqui em casa, confesso que a primeira impressão foi de puro encanto. A arte da capa já chama atenção, mas foi ao abrir e ver o conteúdo que senti aquele “uau” de quem curte componentes bem pensados. E olha que não estamos falando de miniaturas ou tabuleiros moduláveis — é só um jogo de cartas. Mas que cartas!
O destaque vai para o acabamento dourado nas bordas, que dá um ar luxuoso e conecta perfeitamente com o tema da corte. Cada carta tem ilustrações únicas, representando diferentes famílias nobres com identidade própria — criadas pela talentosa Noëmie Chevalier, que mandou muito bem. Dá pra perceber o carinho com que o design foi feito.
Outro ponto interessante é o “tabuleiro”: um pano de tecido que representa a mesa da rainha. É um detalhe que poderia ser só estético, mas acaba virando parte da experiência tátil e visual do jogo. Infelizmente, nem tudo é perfeito. O tecido vem dobrado na caixa, o que dificulta deixá-lo bem esticado na mesa. E pra quem tem alguma forma de daltonismo, o contraste entre as áreas de jogo e os brasões das famílias pode dificultar a leitura. Um pequeno tropeço num jogo que, de resto, é muito bem produzido.
Vale destacar também que Courtisans é um jogo 100% baseado em cartas — ou seja, super portátil e fácil de guardar. É o tipo de jogo que você leva na mochila sem medo, ótimo pra eventos, encontros com amigos ou até pra jogar em viagens.
No geral, o jogo transmite sim uma sensação de “luxo”, ainda que com componentes simples. Um belo exemplo de como é possível fazer mais com menos, quando há atenção aos detalhes — e à imersão temática.
Courtisans vale a pena? Minha opinião sincera após várias partidas
Depois de diversas partidas — algumas tensas, outras hilárias, e muitas recheadas de blefes memoráveis — posso dizer com segurança: Courtisans conquistou seu espaço na minha coleção. Não porque seja o jogo mais profundo ou o mais bonito, mas porque entrega exatamente o que promete (e até um pouco mais).
É aquele jogo que você coloca na mesa sem precisar de meia hora de explicação. Em cinco minutos todo mundo já entendeu o básico, e logo em seguida estão todos tentando adivinhar os objetivos secretos uns dos outros, arquitetando traições, e rindo das surpresas que aparecem até o último turno.
Ele brilha com 3 a 5 jogadores, onde a interação fica mais rica, mas também funciona super bem em dois — apesar de perder um pouco da imprevisibilidade caótica. Com duração média de 20 minutos, encaixa perfeitamente como filler, mas não se engane: mesmo em pouco tempo, o jogo oferece decisões que deixam aquela sensação de “quero jogar de novo”.
Agora, Courtisans não é para todos. Se você busca um jogo calmo, sem interferência direta entre jogadores, ou se o blefe não é sua praia, talvez ele não brilhe tanto. Mas se você curte leitura de mesa, jogos com objetivos secretos, e aquele clima de “cada um por si” recheado de risadas e farpas leves, ele vai ser um sucesso garantido na sua mesa.
Eu recomendo fortemente, principalmente para quem quer algo diferente do tradicional “jogo de blefe” ou pra grupos que curtem uma boa treta estratégica em formato compacto. E quer saber? Poucos jogos conseguem fazer isso tão bem, com tanta elegância — e tão rápido.
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Olá, eu sou Pedro Henrique Schunz e tenho uma profunda conexão com os jogos de tabuleiro. Desde nossos primeiros encontros com clássicos familiares até as noites emocionantes de partidas estratégicas com amigos, cada dado lançado e cada carta virada moldaram nossa experiência única. Crescemos com os jogos, aprendemos com eles e, ao longo do caminho, construímos memórias inesquecíveis.