Quando ouvi falar de Rebirth, um jogo com arte belíssima, regras enxutas e design assinado por ninguém menos que Reiner Knizia (sim, aquele mesmo, lenda viva dos jogos modernos), eu confesso: minhas expectativas eram… moderadas. Sabe aquele tipo de jogo que você pensa “vai ser bonito na mesa, divertido por 30 minutos e depois some da coleção”? Então. Eu já vi muitos desses passarem pela minha estante ao longo dos anos.
Mas aí veio a surpresa.
Rebirth me pegou de jeito. Não com uma avalanche de regras complexas ou com miniaturas absurdamente detalhadas, mas com algo bem mais difícil de alcançar: decisões inteligentes, tensão a cada rodada, e uma sensação constante de “ok, essa jogada foi boa… mas será que vai ser o suficiente?”
E olha que eu já testei jogo demais nessa vida. Participo de comunidades, jogo semanalmente com grupos diferentes, faço protótipos rodarem na mesa antes mesmo de serem anunciados oficialmente. Então quando digo que Rebirth me surpreendeu, é porque ele fez algo raro: me deixou querendo jogar de novo. E de novo.
Neste review completo, vou te contar tudo que descobri testando Rebirth em diferentes grupos e mapas, analisando o design, estratégias, rejogabilidade e, claro, se ele merece ou não um espaço nobre na sua estante.
Spoiler? Já posso adiantar que o mapa da Irlanda tem umas surpresinhas a mais…
O que é Rebirth? Uma experiência de controle de área leve, mas esperta
Vamos começar pelo básico: Rebirth é um jogo para 2 a 4 jogadores, com partidas que giram em torno de 45 a 60 minutos. Ele mistura dois elementos clássicos do design euro — alocação de trabalhadores e controle de área — com uma mecânica bem simples: você puxa um tile de uma sacola, posiciona no tabuleiro, e pontua com base na área em que o colocou.
Parece trivial? Pois é aí que mora a genialidade. Com um único tile por rodada, você precisa tomar decisões que vão impactar toda a sua partida.
Cada local do mapa — seja na Escócia ou Irlanda — oferece oportunidades diferentes. Quer dominar um castelo? Melhor correr antes que alguém te expulse dali. Quer completar objetivos de fim de jogo? Vai precisar visitar as catedrais e garantir suas cartas. E se sobrar um espacinho, por que não expandir sua fazenda ou área de energia?
O que me chamou atenção logo de cara foi o ritmo ágil da partida. Nada de longas esperas entre turnos: você já sabe qual tile vai jogar na sua próxima vez, porque o puxa no fim do seu turno atual. Esse pequeno detalhe reduz muito o tempo ocioso e mantém todos engajados do começo ao fim.
Outro ponto de destaque é a acessibilidade. Ensinar Rebirth é rápido, mesmo para quem não está acostumado com jogos modernos. Em uma das sessões que testei, ensinei o jogo e terminamos uma partida completa em pouco mais de uma hora — e com direito a risadas, reviravoltas e aquela tensão gostosa de fim de jogo.
Ah, e um detalhe que mostra cuidado no design: os tokens dos jogadores têm formatos diferentes, não apenas cores, o que é ótimo para jogadores daltônicos. Ponto extra aí!
Componentes de Rebirth: arte que encanta, peças que funcionam
Uma coisa que sempre me atrai em jogos de tabuleiro — e olha que já vi muita caixa bonita por fora esconder uma verdadeira bagunça por dentro — é quando os componentes realmente contribuem para a experiência de jogo. E nesse ponto, Rebirth não decepciona nem um pouco.
A arte do jogo é, sem exagero, um deleite visual. O mapa — seja você jogando na Escócia ou virando para o lado da Irlanda — tem ilustrações únicas em cada localidade. Isso não é só charme: dá vida ao cenário do jogo, ajuda na imersão e faz com que cada partida tenha um ar quase turístico. Joguei com dois amigos que já visitaram a Escócia e foi hilário ver eles tentando identificar os lugares e contando histórias de viagem enquanto decidiam onde colocar seus tokens.
Falando em tokens: eles são grandes, coloridos e, melhor ainda, vêm em formatos distintos. Isso faz toda a diferença para acessibilidade. Em vez de depender apenas de cores — que pode ser um problema para jogadores daltônicos — o jogo já resolve isso na raiz. É um cuidado sutil, mas que mostra como o design foi pensado de forma inclusiva.
Os castelos são empilháveis, o que não só é visualmente satisfatório (quem não gosta de ver sua torre crescendo no mapa?) como também super funcional: dá pra ver rapidamente quem está dominando o quê. As catedrais são representadas com peças tridimensionais que dão aquele toque de presença no tabuleiro, e você sempre sabe onde ainda pode visitar para conseguir uma carta de objetivo final.
Falando nessas cartas, o acabamento delas é ótimo — nada de impressão barata. E os ícones são bem intuitivos, o que facilita muito quando você está aprendendo ou jogando com novos participantes.
Enfim, Rebirth é aquele tipo de jogo que brilha na mesa. Ele é bonito, sim, mas vai além da estética: os componentes foram claramente pensados para tornar o jogo mais fluido, mais acessível e mais divertido. E isso, meu amigo, não é algo que a gente vê todo dia.
Estratégias em Rebirth
Uma das grandes surpresas ao jogar Rebirth é perceber como um jogo com uma premissa tão simples consegue gerar tanta tensão e profundidade estratégica. A regra é direta: puxe um token da sacola, coloque no mapa, pontue. Mas aí entra o verdadeiro charme: onde você coloca esse token faz toda a diferença.
E é aqui que minha experiência como veterano em eurogames bate forte. Eu adoro quando um jogo “leve” exige que você pense duas, três jogadas à frente, e é exatamente isso que Rebirth proporciona. A cada rodada, você precisa decidir se vai brigar por uma área disputada, garantir aquele castelo que te dá maioria, ou correr para pegar uma carta de objetivo final antes que o outro jogador te passe a perna.
Um detalhe que faz toda a diferença: ao final do seu turno, você já puxa o próximo token. Parece simples, mas isso muda o ritmo do jogo. Você tem todo o turno dos outros jogadores para planejar sua próxima jogada, pensar em alternativas, e ficar torcendo (ou rezando) pra ninguém estragar seus planos.
Ah, e as cartas de catedral? Elas funcionam como objetivos de fim de jogo, dando bônus por controle de áreas específicas, maiores fazendas ou coleções de castelos. Elas moldam a sua estratégia desde o início — mas têm um porém: quanto mais tarde você as adquire, menor o seu impacto. Em uma das partidas que joguei, um dos jogadores puxou uma carta no penúltimo turno que exigia controle de um castelo já dominado. Resultado? Pontos perdidos e aquela cara de “por que eu não fui lá antes?!”.
O mais interessante é que, mesmo com essa estrutura simples, o jogo tem uma rejogabilidade surpreendente. O mapa da Irlanda, por exemplo, traz uma nova mecânica: torres. Elas mudam o ritmo da partida e criam novas formas de controle de área. Além disso, a disposição dos tokens e as cartas de objetivo nunca são as mesmas — ou seja, toda partida exige uma leitura nova do jogo.
Pra mim, esse é o tipo de design que respeita o jogador. Não tenta te impressionar com firulas, mas te entrega uma experiência redonda, com decisões reais, rejogabilidade sólida e um ritmo que mantém todo mundo engajado até o fim.
Pontos a melhorar em Rebirth: o que pode não agradar todo mundo
Mesmo com toda a empolgação que Rebirth me causou, seria injusto não apontar alguns pontos que podem incomodar certos perfis de jogadores. Afinal, cada mesa tem seu estilo, e o que é leve e divertido para uns pode parecer raso para outros.
Vamos começar pela temática. A proposta oficial é que estamos reconstruindo a Escócia (ou a Irlanda) após grandes catástrofes, recuperando regiões, castelos e agricultura. Na prática? Esse tema é quase inexistente durante a partida. Você não sente realmente que está “reconstruindo” nada — poderia ser um jogo de clãs em guerra, controle de território medieval, ou até mesmo um cenário futurista, e ainda funcionaria do mesmo jeito.
Como alguém que valoriza o tema como uma camada de imersão, confesso que senti falta disso em algumas partidas. Não chega a atrapalhar o jogo, mas se você busca uma experiência temática profunda, tipo Viticulture ou Scythe, talvez Rebirth não seja o ideal.
Outro ponto que vale destacar são as cartas de catedral, que funcionam como objetivos finais. Elas são ótimas para dar direção à sua estratégia, mas seu impacto pode variar demais dependendo do momento em que são adquiridas. Puxar uma carta no final do jogo pode ser inútil — e isso já causou frustração em mais de uma mesa que joguei. Um amigo meu disse que parecia “apostar na Mega-Sena no último minuto da partida”.
E por mais que a mecânica de puxar tiles e planejar com antecedência funcione bem, ela também adiciona um certo fator sorte. Às vezes, seu plano perfeito vai por água abaixo porque o tile que você precisa simplesmente não aparece. Para jogadores mais estratégicos, esse elemento pode ser frustrante.
Por fim, o jogo é rápido e leve, o que é ótimo — mas pode deixar aquela galera que adora uma partida de duas horas, com engine building e múltiplas fases, querendo mais. Rebirth não é um jogo que vai ocupar a noite toda, e talvez nem deva ser. Mas ele sabe muito bem onde quer atuar: como um euro acessível, tenso, e com uma duração enxuta.
Ou seja: não são falhas graves, mas pontos que valem atenção dependendo do que você busca numa partida.
Vale a pena jogar Rebirth?
Depois de várias partidas, muitos tiles colocados com carinho (e outros com aquela maldade estratégica), posso dizer com segurança: Rebirth é aquele tipo de jogo que conquista sem precisar gritar. Ele não chega com holofotes, miniaturas gigantes ou promessas revolucionárias. Em vez disso, ele aposta em algo que, pra mim, é muito mais difícil de acertar: decisões significativas em um formato acessível.
Reiner Knizia, como de costume, entrega um design elegante, enxuto e inteligente. E o toque visual de Max Kosek traz a cereja do bolo, com arte vibrante e mapas cheios de personalidade. Tudo isso em um jogo que cabe numa sessão de uma hora e que é fácil de ensinar — mas não tão fácil assim de dominar.
Se você curte jogos que oferecem tensão a cada turno, decisões táticas com base em controle de área e aquela briga boa por maiorias no mapa, Rebirth é uma pedida certeira. Ideal para quem quer um euro game mais leve, sem abrir mão de profundidade.
Agora, se o que você busca é imersão temática profunda, narrativa emergente ou engine building complexo, talvez ele não seja exatamente o seu tipo de jogo. Mas mesmo nesse caso, eu recomendaria dar uma chance. Rebirth tem algo especial: ele é o tipo de jogo que cresce conforme você joga. Cada partida revela nuances novas, pequenas sutilezas que só quem joga com atenção percebe.
E ah, não posso deixar de dizer: o mapa da Irlanda com as torres foi um acerto. Dá uma bela renovada na dinâmica e adiciona uma nova camada estratégica. Se você se apaixonar pela Escócia, vai adorar cruzar o mar e ver como a Irlanda muda o jogo.
Rebirth é para você se:
- Gosta de jogos rápidos com decisões tensas
- Curte controle de área sem muita complicação
- Quer um euro leve para abrir ou fechar uma noite de jogatina
- Aprecia arte bonita e componentes bem pensados
Rebirth talvez não seja pra você se:
- Procura jogos com narrativa forte e imersiva
- Quer jogos mais longos e com desenvolvimento de engine
- Se frustra com sorte na compra de tiles ou cartas
No fim das contas, Rebirth me lembrou por que eu amo tanto esse hobby: porque às vezes, a maior surpresa vem de onde a gente menos espera. E esse jogo, com sua capa discreta e proposta direta, me entregou uma das experiências mais agradáveis dos últimos tempos.
Coloque na mesa, chame os amigos e prepare-se para renascer no controle de área com estilo. Rebirth pode não mudar sua vida — mas vai melhorar sua noite.
Quer fortalecer a conexão emocional com quem você ama e reacender a espontaneidade no relacionamento? Responda o Quiz em menos de 30 segundos e você vai descobrir como tirar seu relacionamento do tédio e resgatar aquela paixão do começo

Olá, eu sou Pedro Henrique Schunz e tenho uma profunda conexão com os jogos de tabuleiro. Desde nossos primeiros encontros com clássicos familiares até as noites emocionantes de partidas estratégicas com amigos, cada dado lançado e cada carta virada moldaram nossa experiência única. Crescemos com os jogos, aprendemos com eles e, ao longo do caminho, construímos memórias inesquecíveis.