Depois de anos mergulhado nesse mundo maravilhoso dos jogos de tabuleiro — desde clássicos como Puerto Rico até pesos-pesados modernos como Ark Nova e Terraforming Mars — confesso que achei que minha “barra de encantamento” já estivesse quase cheia. Afinal, quantos jogos de construção de tableau e gerenciamento de ações realmente conseguem me surpreender hoje em dia?
Pois é. Então veio Sanctuary.
A expectativa? Um “Ark Nova simplificado”. Uma versão light de um dos meus jogos favoritos, provavelmente com menos profundidade e decisões menos impactantes. Já vi isso acontecer muitas vezes, inclusive com jogos do mesmo autor.
A surpresa? Sanctuary não é só uma simplificação. É uma reinvenção elegante. É como se Mathias Wigge tivesse olhado para sua criação anterior, respirado fundo, e decidido fazer tudo de novo — mas com um olhar mais cirúrgico, mais fluido, mais acessível… e ainda assim, incrivelmente estratégico.
E aí, amigo leitor, começa a minha história com esse jogo. Uma jornada que começou com o ceticismo de um jogador experiente e terminou com um sorriso genuíno no rosto ao final da primeira partida. Vamos mergulhar nesse zoológico moderno e cientificamente gerenciado?
O que é Sanctuary? Uma visão geral do jogo
Sanctuary é, essencialmente, um jogo de construção de zoológico com uma pegada moderna e sustentável. Você e seus amigos (ou você sozinho, já que o jogo tem modo solo!) assumem o papel de administradores de santuários ecológicos que precisam equilibrar a atração turística com os objetivos de conservação.
Se você já jogou Ark Nova, vai reconhecer várias mecânicas aqui: seleção de cartas com ações variáveis, construção de um tableau de cartas e peças hexagonais, e aquela sensação deliciosa de montar um quebra-cabeça ecológico com animais, edifícios e projetos especiais. Mas Sanctuary faz tudo isso de uma forma mais enxuta e acessível.
O jogo gira em torno de um baralho de 135 tiles únicos, que representam desde espécies animais até estruturas e projetos ambientais. Cada jogador tem quatro cartas de ação, e o detalhe genial aqui é que o poder de cada ação varia conforme a posição em que ela está no seu tabuleiro pessoal. Isso traz uma camada tática interessantíssima — você precisa planejar não só o que vai fazer, mas quando vai fazer.
Três dessas cartas permitem colocar animais de habitats específicos (floresta, rocha e água) no seu santuário. A quarta serve para jogar projetos especiais, que muitas vezes trazem sinergias poderosas ou marcam pontos por padrões estratégicos no seu mapa.
E aí entra o charme: seu tabuleiro de santuário tem uma grade hexagonal onde tudo deve ser encaixado com inteligência. É aqui que o quebra-cabeça toma forma e que os combos surgem — aquele tipo de momento mágico em que uma jogada encaixa perfeitamente em várias frentes.
O ritmo do jogo é fluido, com decisões constantes, mas sem sobrecarregar a mente. É o tipo de design que só alguém muito íntimo da complexidade dos eurogames poderia criar — e que, ao mesmo tempo, conseguiu podar o excesso com maestria.
Sanctuary é melhor que Ark Nova?
Aqui, vou ser direto, como costumo ser nos grupos de board gamers no Discord e nos encontros da ludolocadora aqui perto de casa: não é uma questão de ser melhor ou pior. É uma questão de proposta.
Enquanto Ark Nova é um eurogame robusto, com partidas que duram entre 2h30 e 3h e uma curva de aprendizado que pode intimidar novatos, Sanctuary propõe uma experiência mais enxuta — partidas entre 45 a 90 minutos, regras mais intuitivas, e um foco maior no quebra-cabeça espacial do que na gestão de cartas e combos elaborados.
Mas atenção: isso não significa que o jogo é raso. Pelo contrário. Ele tem profundidade estratégica de sobra, principalmente quando você começa a entender como posicionar bem suas peças, combinar habilidades de projetos e temporizar suas ações de forma otimizada.
Pessoalmente, vejo Sanctuary como a ponte perfeita entre jogadores casuais e mais experientes. Aquele título que você pode colocar na mesa com novatos sem medo, mas que ainda vai te dar aquele gostinho delicioso de “eu poderia ter feito melhor” no final da partida.
Aliás, numa das minhas jogatinas, levei Sanctuary para um encontro com amigos que nunca tinham tocado em Ark Nova. Em 15 minutos estavam jogando sozinhos, fazendo planos, comemorando jogadas… e no final? Todos querendo repetir.
Se isso não é um bom sinal, não sei o que é.
Componentes e produção: visual de encher os olhos
Se tem uma coisa que a gente aprende com o tempo nesse hobby é que a primeira impressão conta. E, olha… Sanctuary entrega demais no quesito visual.
Lembro direitinho da primeira vez que abri a caixa. Aquela sensação de “vamos ver se o capricho acompanha o design” — e a resposta foi um sonoro sim. A arte dos tiles é um espetáculo à parte, com ilustrações detalhadas de animais e construções que passam uma vibe quase documental, como se cada elemento tivesse saído direto de um guia de ecologia ou de uma visita guiada ao Zoo de Berlim.
São 135 peças únicas de zoológico — e eu juro, nenhuma delas parece jogada ou genérica. Cada tile parece ter sido cuidadosamente pensado, tanto em design quanto em função. É aquele tipo de jogo que te dá vontade de explorar só pelo prazer de descobrir o que mais pode sair do baralho.
O tabuleiro pessoal de cada jogador é limpo, funcional e bonito. As áreas são bem demarcadas, e o uso do grid hexagonal cria uma dinâmica visual muito interessante, onde a simetria dos habitats se mistura com a organicidade da natureza.
As cartas de ação também são bem produzidas, com ícones intuitivos e layout claro — algo essencial num jogo onde a eficiência depende de entender rapidamente o que se pode ou não fazer em cada rodada. E o melhor: o design é linguagem-dependente moderado, ou seja, tem um pouco de texto, mas nada que vá travar a fluidez da partida com um grupo internacional ou iniciante.
Outro detalhe que merece destaque: a organização da caixa. Como bom fã de ordem (e de insert bonito), fiquei feliz em ver que tudo se acomoda bem e com lógica. Não tem aquele caos pós-jogo em que parece que os componentes brigaram entre si no escuro.
E claro, não posso deixar de comentar sobre a estética geral do jogo, desde a caixa até os materiais promocionais. Sanctuary carrega uma identidade visual forte, quase como se fosse um documentário em forma de tabuleiro. Dá orgulho de colocar na mesa.
Mecânicas refinadas: onde o design brilha
Uma das coisas que mais me conquistou em Sanctuary foi a forma como ele simplifica conceitos complexos sem perder o sabor estratégico.
O núcleo do jogo gira em torno de quatro cartas de ação — e só isso já é brilhante. Em vez de um mar de opções que te paralisa (alô, AP lovers), o jogo foca no essencial. Você tem que pensar bem sobre quando usar cada ação, porque o slot onde ela está determina sua força. É como se o jogo te obrigasse a pensar no timing das suas escolhas o tempo todo, e isso é delicioso.
Cada ação tem um propósito claro: uma joga projetos, as outras três colocam animais de habitats específicos (floresta, rocha e água). Parece simples? É. Mas também é afiado. Porque o jeito como essas peças interagem entre si — e com os projetos — cria um quebra-cabeça que exige leitura de jogo, planejamento e adaptação constante.
Outro ponto alto é o sistema de montagem do santuário no grid hexagonal. Você precisa conectar habitats, maximizar bônus, cumprir pré-requisitos de projetos e ainda pensar na estética (porque, sim, visualizar um zoológico bem distribuído dá um prazer quase zen). A sensação é parecida com jogos como Cascadia ou Calico, mas com um objetivo mais amplo e ecológico.
E aqui vai uma confissão de jogador de longa data: eu adoro quando um jogo me faz sentir inteligente. Aquele momento em que você conecta um animal a um projeto e percebe que aquilo te dá pontos, ativa uma habilidade e ainda libera um bônus extra? Isso é puro design elegante.
Sanctuary entrega isso com frequência. E sem te afogar em regras.
É esse equilíbrio entre profundidade e acessibilidade que me faz ver o jogo não só como uma “porta de entrada premium”, mas como um jogo digno de lugar fixo na coleção de qualquer jogador experiente.
Vale a pena? Para quem é Sanctuary
Agora vamos ao que realmente interessa: Sanctuary vale o investimento?
Minha resposta curta: sim. E com entusiasmo.
Mas claro, vamos destrinchar isso um pouco mais.
Se você é fã de Ark Nova, vai se sentir em casa. Sanctuary é uma versão mais enxuta, mais rápida e, ouso dizer, até mais elegante em alguns aspectos. Se Ark Nova é uma refeição completa de cinco pratos, Sanctuary é aquele brunch caprichado de domingo: ainda sofisticado, ainda saboroso, mas mais leve e prático.
Se você é novo no mundo dos jogos de tabuleiro ou está trazendo amigos que ainda estão entrando no hobby, Sanctuary é perfeito. Ele é fácil de ensinar, visualmente atrativo e com decisões significativas logo nas primeiras rodadas. Aquela curva de aprendizado suave, sabe?
Se você curte jogos com quebra-cabeça espacial, gestão de mão e construção de tableau — mas sem perder 30 minutos só montando a mesa —, esse jogo vai direto ao ponto e te recompensa com uma experiência rica e divertida.
Agora, se você busca jogos super temáticos, com narrativa emergente e imersão ao estilo Gloomhaven ou Sleeping Gods, talvez Sanctuary não seja o foco da sua estante. Ele é mais “cabeça”, mais euro, mais tático do que narrativo. Ainda assim, vale a pena experimentar.
E se você é como eu — um apaixonado por design inteligente, bons componentes e jogos que entregam mais do que prometem — então Sanctuary vai te pegar de jeito.
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Olá, eu sou Pedro Henrique Schunz e tenho uma profunda conexão com os jogos de tabuleiro. Desde nossos primeiros encontros com clássicos familiares até as noites emocionantes de partidas estratégicas com amigos, cada dado lançado e cada carta virada moldaram nossa experiência única. Crescemos com os jogos, aprendemos com eles e, ao longo do caminho, construímos memórias inesquecíveis.