Quando ouvi falar de Corps of Discovery pela primeira vez, minha cabeça já pintou a cena: Lewis e Clark liderando uma expedição cheia de perigos sobrenaturais pelas florestas densas e montanhas desconhecidas da América do século XIX. Pensei: “Pronto. Lá vem mais um jogo temático de aventura, tipo um Eldritch Horror com chapéu de couro e mosquetes.”
A caixa até grita isso! “Lidere a expedição de Lewis e Clark… e mate monstros demoníacos.” Como não criar expectativa?
Como redator sênior especializado em jogos de tabuleiro há mais de uma década — com pilhas de caixas abertas, regras esmiuçadas, protótipos testados e noites regadas a tokens e debates acalorados com amigos em cafés lúdicos — já vi de tudo. E por isso, achei que sabia exatamente no que estava me metendo.
Surpresa: Um quebra-cabeça cerebral disfarçado de aventura
Mas Corps of Discovery me surpreendeu. E não daquele jeito que te arranca um “Uau!” logo de cara. Foi mais como abrir um baú antigo esperando ouro, mas encontrar um livro de enigmas. Ao invés da experiência temática e narrativa que a estética promete, o que temos aqui é um jogo cooperativo de dedução lógica, afiado como um bisturi — e muito mais cerebral do que qualquer monstro na capa sugere.
Sim, ainda há monstros, mas eles são obstáculos mecânicos, não épicos narrativos. Sim, há uma “expedição”, mas ela acontece em tabuleiros montados como quebra-cabeças de lógica, com recursos escassos, decisões difíceis e um sistema que mais parece uma mistura de Minesweeper com Sudoku do inferno. E honestamente? Quando percebi isso, fiquei dividido. Parte de mim queria a aventura pulp. A outra, a que gosta de ser desafiada intelectualmente, ficou fascinada.
Agora que você já sabe que Corps of Discovery não é o que parece ser, vamos mergulhar nos detalhes — e te ajudar a descobrir se essa é uma surpresa que vai te conquistar… ou te frustrar.
O que é Corps of Discovery, afinal?
Apesar da estética que remete a aventuras pulp com criaturas grotescas e confrontos épicos, Corps of Discovery é, no coração, um jogo de dedução cooperativa com forte gerenciamento de crises e recursos. Desenvolvido por Jay Cormier e Sen-Foong Lim, o jogo é baseado na HQ Manifest Destiny, mas adapta apenas parte do tom da obra original.
Você e seus companheiros de mesa assumem o papel da famosa expedição de Lewis e Clark, enfrentando não só monstros como os temíveis “buffalotaurs” (é, isso mesmo), mas também fome, sede, desafios ambientais e crises diárias que surgem como uma avalanche. Mas aqui vai o detalhe que muda tudo: cada mapa é um enigma. Literalmente.
A dinâmica do jogo envolve revelar espaços ocultos em um grid, tentando decifrar padrões — como aonde certos tipos de recursos costumam aparecer, ou onde monstros podem estar escondidos — enquanto você tenta completar objetivos que exigem precisão quase matemática. É como um Escape Room com cara de Indiana Jones.
E, honestamente? A primeira vez que você joga, parece que o jogo está contra você. Faltam berries, a água evapora misteriosamente, e você jura que os monstros têm radar. Mas a verdade é que Corps of Discovery quer te forçar a pensar. Ele desafia você a colaborar, testar hipóteses e otimizar cada jogada. Não é um jogo para quem quer desligar o cérebro — é para quem adora montar estratégias coletivas sob pressão.
Você vai perder. Provavelmente nas primeiras partidas. E vai perder feio. Mas se persistir, vai começar a ver padrões, vai aprender a prever perigos, a montar armadilhas e superar crises com elegância. E quando isso acontecer, o jogo revela sua verdadeira alma — uma experiência intensa, desafiadora e recompensadora.
Na próxima seção, vou te contar como foi minha experiência real com a caixa nas mãos — do unboxing ao momento em que decidi dar ou não uma chance real ao jogo. Spoiler: teve frustração, mas também teve reviravolta.
A primeira impressão importa? Um unboxing turbulento de Corps of Discovery
Se você já passou pela experiência de abrir um jogo novo com aquele cheirinho de tinta fresca e expectativa no ar, sabe como o unboxing pode ser mágico. É o equivalente lúdico a abrir presentes de Natal. Mas quando chegou minha cópia de Corps of Discovery, confesso que minha empolgação logo bateu de frente com a realidade — e não foi uma colisão leve.
Recebi a edição Ultimate, que vinha embalada como se fosse um tesouro perdido: caixa no estilo Ticket to Ride, com um insert bonito, um mapa de madeira lindíssimo (sim, de madeira mesmo!), e várias pastas temáticas com títulos como Insecta, Flora e Vameter. Tudo prometia imersão e variedade. Só que… o jogo já começou me pedindo um favor: corrigir os erros de produção. Sim, é isso mesmo.
Logo de cara, descobri que alguns mapas vinham com informações erradas — e a solução sugerida era literalmente “riscar com um X” os lados ruins. Pensa comigo: você espera uma experiência premium e recebe uma cartinha dizendo “faz uma gambiarra aí que dá certo”. Nada mata mais o clima de um unboxing do que perceber que vai precisar resolver problemas de fabricação antes de sequer jogar.
E não parou por aí. O insert veio bagunçado, vários tokens estavam soltos, misturados, e não havia um guia claro para identificar se todos os componentes estavam ali. Um amigo meu, o Lon (aquele que compartilha mesa comigo desde os tempos de Puerto Rico), me mandou uma mensagem meio indignada: “Faltando tokens, manual mal explicado, mapas com erro… paguei caro pra isso?”. E olha, ele não exagerou.
Apesar disso, nem tudo foi decepção. O visual dos componentes é bem estilizado, com uma arte em estilo comic book que me agradou bastante. O suporte de mapa em madeira é de encher os olhos, e os tokens de recursos — embora simples — têm boa pegada tátil. Só que a sensação era de que o jogo precisava de mais cuidado, principalmente se compararmos com outros títulos modernos que prezam tanto por organização e clareza.
O ponto mais crítico? O manual. Mas isso eu deixo para a próxima seção — porque se o unboxing já me deixou desconfiado, o manual conseguiu me fazer questionar se eu estava pronto para encarar essa expedição. E olha que eu tenho anos de estrada lendo regras em cinco idiomas diferentes.

Manual confuso, regras vagas: quando o desafio é entender como jogar Corps of Discovery
Eu já li muita regra ruim na vida. Algumas mal traduzidas, outras que parecem ter sido escritas num guardanapo durante uma noite de pizza e cerveja. Mas o manual de Corps of Discovery… ele me fez sentir saudade de alguns desses. Porque aqui, o problema não é só a clareza — é que o jogo exige precisão absoluta nas regras, mas entrega um manual que mais atrapalha do que ajuda.
Lembra quando falei que o jogo é altamente cerebral e baseado em dedução? Pois é. Em jogos assim, cada termo, cada símbolo, cada iconografia precisa estar perfeitamente explicado, porque qualquer ambiguidade mata a experiência. Só que o manual de Corps of Discovery parece mais preocupado em parecer bonito do que ser funcional.
Primeiro, o básico: ele tem poucas ilustrações exemplificativas. Uma única explicação cruzando páginas. Uma fonte minúscula. Ícones mal explicados, alguns nem sequer aparecem na seção de resumo (isso mesmo, tem ícone que está escondido num cantinho aleatório do texto principal e você vai passar horas procurando). E o pior: há regras cruciais que simplesmente não estão lá.
Em um dos cenários de treinamento, por exemplo, me vi empacado tentando entender como funcionava o descarte de desafios em andamento. O manual não explica se você mantém os tokens de caminho ao trocar de desafio. E isso, no contexto do jogo, muda completamente a estratégia. Fui obrigado a buscar respostas em fóruns, postagens no BGG e até vídeos gringos. Isso tira completamente a fluidez da primeira partida.
Em outro momento, me deparei com a notação “?/Água” em uma carta. O que isso quer dizer? Perde uma água? Qualquer recurso? Um marcador de dúvida? Nenhuma explicação direta. Só depois de muito vasculhar encontrei a informação — escondida perto da descrição de efeitos de monstros, numa seção totalmente fora do lugar lógico. E mesmo assim, a dúvida persiste: esse símbolo representa um token físico? Ou é apenas uma anotação no tabuleiro? Não há clareza, o que é inadmissível num jogo com esse nível de complexidade.
E olha que eu sou do tipo que gosta de estudar regras. Costumo preparar resumos para meu grupo, criar ajuda de referência personalizada… Mas aqui, nem isso adiantou. O jogo te deixa inseguro nas decisões porque você nunca tem certeza se está jogando certo.
O que mais me frustrou foi perceber que boa parte da dificuldade inicial não vinha do jogo em si, mas sim da forma como ele foi comunicado. Corps of Discovery tem um sistema intrincado, com muitas interações inteligentes — só que elas ficam enterradas sob um manual mal estruturado.
Se você é iniciante ou tem pouca paciência com regras mal escritas, fica o alerta: esse jogo vai exigir dedicação extra antes mesmo da primeira jogada fluir bem. Agora, se você for teimoso (como eu), pode acabar descobrindo que, apesar das falhas editoriais, há um jogo bastante interessante escondido ali.
Na próxima parte, vou compartilhar como foram minhas primeiras partidas de verdade — as vitórias suadas, os erros bobos e o momento em que o jogo quase me ganhou… ou me perdeu de vez.
Dez partidas depois: minha relação de amor e ódio com Corps of Discovery
Eu sou daqueles que acreditam que você só conhece de verdade um jogo depois de pelo menos cinco partidas. E com Corps of Discovery, eu fui além: me desafiei a jogar dez vezes, explorando cenários diferentes, testando estratégias e — principalmente — tentando descobrir se havia um jogo brilhante por trás da camada de frustração inicial.
Spoiler: houve momentos em que eu quase joguei a toalha.
Comecei pelas missões de treinamento, como recomendado. As primeiras partidas foram… difíceis. Não por causa da complexidade das decisões, mas porque eu passava metade do tempo debatendo regras mal explicadas e tentando entender como certas mecânicas funcionavam. Sabe aquele clima de “será que estamos jogando certo?” — ele rondou a mesa por horas.
Depois de duas partidas de introdução, parti para os cenários Fauna. Aqui o jogo começou a brilhar — timidamente, mas brilhou. Os desafios ficaram mais claros, os padrões de dedução começaram a emergir, e minha equipe (jogando em três pessoas) começou a encontrar sinergia entre as habilidades dos personagens e as ações do dia. Enfrentar os minotauros com cabeça de búfalo (os famigerados “buffalotaurs”) trouxe uma sensação tensa e estratégica. Posicionar recursos, evitar territórios dominados e montar armadilhas foi genuinamente divertido. Pela primeira vez, Corps of Discovery parecia funcionar como um excelente jogo cooperativo lógico.
Mas bastou mudar de cenário para vir o baque. O mapa Flora me destruiu. Recursos escassos, desafios absurdos e uma sequência de má sorte fizeram com que cada turno parecesse uma luta para respirar. A dificuldade deu um salto e, pior, a sensação de que a sorte definia tudo voltou com força. Em uma partida, vencemos com quase pontuação máxima. Em outra, com estratégia parecida, mal conseguimos sobreviver.
Foi aí que começou minha crise com o jogo. Um jogo de dedução que exige lógica fria e análise precisa não pode depender tanto de sorte. A cada partida, o fator aleatoriedade parecia influenciar mais que nossas decisões. Cartas de crise que surgiam na ordem errada, tokens de terreno que negavam recursos essenciais — tudo conspirava para frustrar, não desafiar.
Ainda assim, houve momentos brilhantes. Aquela sensação de alinhar as peças, deduzir corretamente onde estavam os recursos, evitar um monstro no último segundo… isso é ouro puro para quem gosta de coop games com tensão constante.
O problema é que esses momentos eram raros demais. Na maioria das vezes, Corps of Discovery parecia me punir não por jogar mal, mas por não “dar sorte” no setup ou na revelação do mapa. A recompensa vinha tarde, e às vezes nem vinha.
Minha conclusão, ao final da décima partida? O jogo tem um núcleo genial, cercado por camadas de aleatoriedade e problemas editoriais que sufocam sua genialidade. Jogadores que buscam desafio cerebral, adoram dedução e têm paciência para contornar falhas de produção podem encontrar aqui uma pérola bruta. Mas se você espera um jogo equilibrado, justo e coeso desde a primeira jogada, talvez a frustração fale mais alto.

Quando a sorte rouba a cena: o fator aleatoriedade em Corps of Discovery
Se tem uma coisa que me tira do sério em jogos de dedução é a sensação de que minhas decisões são irrelevantes. E infelizmente, Corps of Discovery cai exatamente nessa armadilha mais vezes do que deveria.
Veja bem, esse é um jogo que se vende como um quebra-cabeça cooperativo, quase um Sudoku com monstros. E, de fato, ele tem todos os elementos para isso: lógica de posicionamento, padrões ocultos, uso eficiente de recursos limitados. Só que, no meio desse labirinto mental, a sorte surge como um elemento inesperadamente dominante — e aí, meu caro, a frustração bate forte.
Em algumas partidas, especialmente nos cenários Fauna e Flora, percebi que a ordem em que as crises surgem ou os tokens são revelados impacta brutalmente o jogo. Teve uma vez em que o combo inicial de cartas me jogou direto em três penalidades consecutivas antes de conseguir água — o recurso mais precioso do jogo. Resultado? Uma corrida desesperada que terminou em derrota, mesmo com boas decisões táticas.
Em outra ocasião, usamos praticamente a mesma abordagem, mas tivemos a sorte de encontrar água cedo e desafios mais brandos — e vencemos com folga. O que mudou? O plano era o mesmo, mas os elementos aleatórios favoreceram uma e puniram outra. E em um jogo que pede dedução e estratégia acima de tudo, isso soa… errado.
Isso não quer dizer que o jogo não tenha profundidade. Pelo contrário, ele exige planejamento, coordenação de habilidades dos personagens e leitura constante do cenário. Mas o problema é que, quando tudo isso é atropelado por uma sequência ruim de sorte, o mérito da vitória ou o peso da derrota ficam em segundo plano.
É claro que algum nível de aleatoriedade é saudável. Ele gera rejogabilidade, tensão, imprevisibilidade. Mas em Corps of Discovery, essa aleatoriedade não está balanceada com a proposta lógica. Em vez de ser um tempero, ela vira ingrediente principal. E isso compromete a sensação de progresso, principalmente para jogadores que, como eu, querem vencer por mérito da dedução, e não por sorte no sorteio dos tokens.
Pior ainda é quando você junta isso com as regras mal explicadas e as dúvidas constantes: o jogo já é difícil de entender, e ainda por cima te pune com eventos aleatórios mal calibrados. É como correr uma maratona com uma venda nos olhos e pedrinhas no tênis — você até pode chegar lá, mas vai se perguntar se valeu o esforço.
Por tudo isso, o fator sorte em Corps of Discovery é um divisor de águas. Para alguns, ele vai adicionar aquele gostinho de “nunca sei o que esperar” que torna cada partida única. Para outros (me incluo aqui), vai parecer uma pedra no sapato de um jogo que tinha tudo para ser brilhante — mas tropeça onde não devia.
Na conclusão, vou reunir tudo isso e dar meu veredito final: quem deve jogar Corps of Discovery, e quem deve passar longe.
Conclusão: Corps of Discovery vale a pena?
Depois de dez partidas, mapas riscados, tokens desorganizados e muita discussão sobre regras no grupo do WhatsApp, posso dizer com segurança: Corps of Discovery é um jogo que divide opiniões — e com razão.
Por um lado, ele oferece um sistema de dedução inteligente, cenários variados, mecânicas inovadoras de exploração e um desafio cooperativo que pode ser extremamente gratificante para quem gosta de jogos cerebrais e intensos. Quando o jogo funciona — quando os elementos se alinham, quando o grupo entende as regras, quando os recursos aparecem na hora certa — ele entrega uma experiência única, densa e viciante. Poucos jogos conseguem simular tão bem o peso da sobrevivência e da tomada de decisões em grupo sob pressão.
Por outro lado, os problemas são reais e não podem ser ignorados. A produção com falhas, o manual mal estruturado, a iconografia confusa e a aleatoriedade exagerada minam o que poderia ser uma experiência mais redonda. Se você tem baixa tolerância para regras mal explicadas ou sente calafrios ao depender da sorte em jogos de dedução, Corps of Discovery pode virar uma fonte de frustração constante.
Minha recomendação é simples:
- Se você ama jogos cooperativos desafiadores, tem paciência para “domar” regras mal escritas, e está em busca de algo fora do comum — dê uma chance. Mas vá com as expectativas ajustadas: isso aqui é mais um puzzle de sobrevivência do que uma aventura épica.
- Agora, se você prefere experiências fluídas, com regras bem amarradas e controle mais preciso do jogo, talvez seja melhor procurar outra expedição.
Como especialista em jogos de tabuleiro, já vi muitos títulos promissores que falham na execução. Corps of Discovery não é um desastre, longe disso — mas também não é para todos. Ele exige dedicação, abertura ao caos e, acima de tudo, um grupo que aceite as imperfeições em troca de uma experiência de raciocínio tenso e colaborativo.
No fim das contas, talvez o próprio nome do jogo diga tudo: essa é uma descoberta. E como toda boa descoberta, ela pode revelar tesouros… ou armadilhas. A decisão final é sua.
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Olá, eu sou Pedro Henrique Schunz e tenho uma profunda conexão com os jogos de tabuleiro. Desde nossos primeiros encontros com clássicos familiares até as noites emocionantes de partidas estratégicas com amigos, cada dado lançado e cada carta virada moldaram nossa experiência única. Crescemos com os jogos, aprendemos com eles e, ao longo do caminho, construímos memórias inesquecíveis.