Se você já viu Alien, aquele clássico do cinema que mistura ficção científica e terror, sabe a sensação: corredores escuros, sons estranhos vindo de lugares desconhecidos, e a certeza de que algo está à espreita. Agora, imagine viver essa experiência na sua sala, com seus amigos – ou inimigos disfarçados. É isso que Nemesis promete, e entrega com maestria.

Lembro da primeira vez que joguei. O tabuleiro mal tinha sido montado e já parecia que eu estava preso naquela nave. As luzes na mesa estavam baixas, aumentando a imersão, e cada vez que alguém rolava o dado de ruído, o som ecoava como um alerta no silêncio da sala. “Vai dar ruim”, pensei quando os marcadores de ruído começaram a se acumular em vários corredores. E deu. Um Intruso surgiu no momento errado, e nossa estratégia cuidadosamente planejada desmoronou em segundos.

Essa é a magia de Nemesis. Ele não é só um jogo, é uma história que você vive a cada turno. A atmosfera é tão bem construída – dos objetivos secretos que podem transformar seu amigo em traidor, até os Intrusos que aparecem de forma imprevisível – que você sente a adrenalina. É como estar em um filme, mas com uma diferença: aqui, você decide seu destino (ou pelo menos tenta).

Mas cuidado: Nemesis não é para qualquer um. Se você gosta de jogos rápidos ou simples, pode se frustrar. Ele exige dedicação, e morrer faz parte da experiência. Ainda assim, se você ama desafios e uma boa dose de tensão, vai se pegar voltando para a nave, rodada após rodada, em busca da sobrevivência – ou da sua próxima traição.

Tema: o terror de Alien reimaginado

Desde o momento em que você abre a caixa, Nemesis faz questão de transportá-lo para o universo sombrio e claustrofóbico de uma nave espacial avariada. A arte do tabuleiro, as miniaturas detalhadas dos alienígenas (os terríveis Intrusos), e até o manual, tudo exala uma atmosfera de perigo e isolamento.

A trama é simples, mas eficaz: você e outros membros da tripulação acordam do hipersono, desorientados e cercados por ameaças. A nave está com sistemas críticos danificados, um cadáver jaz no chão, e há algo à espreita no escuro. Cada jogador tem um objetivo secreto, que pode variar de “sobreviver e garantir que a nave chegue à Terra” até “sabotar o motor e escapar sozinho”. Essa tensão entre cooperação e traição é um dos pontos altos do jogo, lembrando constantemente que ninguém está realmente seguro.

Mecânicas: entre a estratégia e o caos

Nemesis é um jogo semi-cooperativo para 1 a 5 jogadores, com partidas que podem durar de 2 a 4 horas (ou mais, na primeira vez). Ele combina várias mecânicas clássicas, mas com um toque próprio que intensifica a tensão:

• Movimento e ruído: Ao se mover pela nave, você rola um dado para determinar onde faz barulho. Se acumular ruído em um corredor já marcado, um Intruso aparece. O som da ficha de barulho sendo colocada já é suficiente para deixar todos na mesa tensos.
• Combate desafiador: Lutar contra os alienígenas não é fácil. Eles têm força imprevisível e ataques devastadores. Isso força os jogadores a optarem por fuga ou improvisação, como jogar um colega de tripulação como distração (sim, isso pode acontecer).
• Objetivos secretos: Cada jogador começa com duas cartas de objetivo, mas precisa escolher uma delas após o primeiro encontro com os Intrusos. Pode ser algo altruísta, como salvar a nave, ou algo egoísta, como garantir que apenas você sobreviva. Essa mecânica transforma cada jogador em um possível inimigo.

O combate e a sobrevivência são tão desafiadores que até mesmo as ações de rotina, como buscar um kit médico ou consertar um motor, podem se transformar em uma corrida contra o tempo – ou contra um alienígena.

Rejogabilidade e aleatoriedade: o caos planejado

Cada partida de Nemesis é diferente, graças à randomização de salas, eventos e comportamento dos Intrusos. As cartas de sala são posicionadas de forma aleatória, o que significa que uma sala essencial pode estar perto… ou no outro lado da nave. Além disso, há um segundo layout de tabuleiro, que muda completamente a configuração da nave.

Os Intrusos também são imprevisíveis. Eles podem surgir rapidamente ou apenas após vários turnos. Sua força e habilidades variam, tornando cada encontro uma surpresa (quase nunca agradável).

Essa aleatoriedade aumenta a rejogabilidade, mas também pode frustrar jogadores menos experientes. Uma má sequência de eventos pode acabar com a tripulação rapidamente, enquanto partidas mais longas permitem momentos de tensão crescente e vitórias memoráveis.

Desafios e complexidade: um jogo para veteranos

Se você é novato no mundo dos jogos de tabuleiro, Nemesis pode parecer intimidador. São muitas regras, componentes e interações para aprender. Só a leitura do manual pode levar mais de uma hora, e as primeiras partidas são recheadas de consultas ao livro de regras.

A curva de aprendizado vale a pena, mas exige paciência. Jogadores casuais ou que preferem experiências mais leves podem achar Nemesis cansativo ou frustrante. Por outro lado, se você gosta de desafios estratégicos e não se importa em morrer no espaço (ou trair seus amigos), este jogo é um prato cheio.

Pontos positivos e negativos: o que brilha (e o que trava) em Nemesis

Nemesis é um jogo que impressiona – mas também desafia. Vamos começar com o que eu mais gosto.

A atmosfera é, sem dúvidas, o maior destaque. Cada partida parece um filme de terror. Me lembro de uma sessão em que meu personagem estava escondido em uma sala, ouvindo passos de um Intruso no corredor ao lado. Meu coração estava na garganta. É raro um jogo capturar esse nível de imersão, e Nemesis faz isso com suas mecânicas de ruído, as miniaturas assustadoramente detalhadas e o visual da nave, que exala claustrofobia.

Outro ponto que adoro são os objetivos secretos. Você nunca sabe quem está do seu lado ou tramando sua queda. Em uma partida, um jogador sabotou os motores enquanto fingia estar ajudando – e só descobrimos quando já era tarde. Essa tensão constante, combinada com a necessidade de cooperar para sobreviver, cria momentos memoráveis.

Mas nem tudo é perfeito. O combate pode ser frustrante, principalmente nas primeiras jogadas. Uma vez, eu estava confiante de que ia derrotar um Intruso pequeno – e então rolei tão mal que acabei contaminado e sem ações. Parece que o jogo quer te forçar a fugir, mas isso pode desanimar quem prefere partir para a ação.

Além disso, as regras são complexas. Na primeira partida, passamos tanto tempo consultando o manual que a imersão sofreu um pouco. E as partidas são longas. É preciso paciência para lidar com o ritmo e com os muitos componentes que deixam a mesa parecendo uma estação espacial (literalmente).

No final, Nemesis recompensa quem investe tempo nele. Para os fãs de jogos intensos, com desafios estratégicos e histórias épicas, seus pontos altos superam qualquer problema.

Conclusão: vale a pena jogar Nemesis?

Nemesis não é apenas um jogo de tabuleiro; é uma experiência de sobrevivência espacial única. Ele equilibra estratégia, sorte e paranoia em uma combinação irresistível para jogadores experientes que buscam algo desafiador.

Se você gosta de filmes como Alien e não tem medo de um jogo onde perder (ou ser traído) faz parte da diversão, Nemesis merece um lugar na sua coleção. Mas esteja avisado: aqui, cada partida é uma luta pela vida, e às vezes sobreviver é apenas o começo dos seus problemas.

Pedro Henrique Schunz

Olá, eu sou Pedro Henrique Schunz e tenho uma profunda conexão com os jogos de tabuleiro. Desde nossos primeiros encontros com clássicos familiares até as noites emocionantes de partidas estratégicas com amigos, cada dado lançado e cada carta virada moldaram nossa experiência única. Crescemos com os jogos, aprendemos com eles e, ao longo do caminho, construímos memórias inesquecíveis.