Quando anunciaram o jogo Frosthaven… lembro de abrir a pré-venda ansioso. Afinal, Gloomhaven foi um divisor de águas, um daqueles jogos que se tornaram referência. A ideia de um sucessor que prometia ser maior, mais estratégico e ainda mais imersivo me deixou contando os dias para a chegada da caixa — que, diga-se de passagem, parece um pequeno armário de tão grande.
Quando finalmente abrimos o jogo e montamos a mesa, tudo parecia promissor: novos personagens, mecânicas de construção, uma narrativa que prometia mais profundidade… Só que, com o tempo, percebemos que Frosthaven não é um “mais do mesmo” de Gloomhaven. Ele é um desafio completamente diferente.
Essa diferença, aliás, pegou nosso grupo desprevenido. Estávamos acostumados com a liberdade de criar estratégias ousadas e personagens quebrados, como em Gloomhaven. Mas aqui, a dificuldade é mais calculada, como se o jogo dissesse: “Você vai ganhar, mas vai sofrer um pouco no caminho.” E quer saber? Isso não é ruim! Apesar das frustrações iniciais, o jogo nos levou a adaptar nossas expectativas e abraçar uma experiência mais metódica e imersiva.
Primeiras impressões: o que é Frosthaven?
Se você ainda não conhece Frosthaven, imagine Gloomhaven com uma pitada de sobrevivência e gestão de recursos. Aqui, você não é apenas um mercenário vagando por dungeons — você é parte vital de uma vila isolada, cercada por perigos e desafios. A premissa é empolgante: entre uma missão e outra, seu grupo trabalha para proteger e expandir esse refúgio gelado, construindo estruturas, criando itens e tentando manter o avanço do tempo e dos inimigos sob controle.
Mas não espere moleza. Frosthaven te desafia a pensar além do combate. Gerenciar os recursos da vila é essencial para avançar na campanha. Precisa de poções ou equipamentos melhores? Hora de caçar aqueles materiais escassos e tomar decisões difíceis sobre onde investir. É uma dinâmica que torna cada retorno ao posto avançado mais significativo — e te conecta emocionalmente ao progresso da vila.
Por outro lado, essa camada extra pode parecer um peso para jogadores mais casuais. Com tantas novas regras e mecânicas, o jogo pode sobrecarregar mesmo quem já conhece bem o universo de Gloomhaven.
Frosthaven é ambicioso. Ele entrega uma experiência que mistura estratégia, narrativa e sobrevivência como poucos jogos fazem. Mas esteja avisado: é uma jornada densa, com momentos de brilho e outros que exigem paciência e dedicação.
Os pontos altos: o que Frosthaven faz muito bem
1. Uma vila para chamar de sua
A fase de posto avançado foi uma surpresa agradável. Em Gloomhaven, entre uma missão e outra, você fazia basicamente o básico: comprava itens, lia eventos e partia para a próxima missão. Em Frosthaven, a história é diferente. Você literalmente constrói a vila, decide quais estruturas erguer ou melhorar e até cria itens com os recursos coletados nas aventuras. Isso dá uma sensação de progresso fora dos cenários, algo que faltava no jogo anterior.
Claro, nem tudo são flores (ou neve, no caso). Os ataques ao posto avançado, apesar de interessantes em teoria, podem ser repetitivos e às vezes quebram o ritmo. Não é uma mecânica ruim, mas poderia ser melhor desenvolvida.
2. Personagens únicos e memoráveis
Se você gosta de experimentar mecânicas diferentes, vai adorar as classes de Frosthaven. Cada uma tem um estilo de jogo extremamente único, desde personagens que se transformam em diferentes formas (alô, Geminate) até aqueles que criam armadilhas e manipulam o campo de batalha de formas criativas.
No entanto, essa singularidade tem um preço. Alguns personagens podem ser desafiadores demais para jogadores iniciantes, e as sinergias entre as classes nem sempre funcionam bem, dependendo do grupo. Ainda assim, é impossível negar que essa variedade é um dos maiores pontos fortes do jogo.
3. História mais envolvente
Lembro que, em Gloomhaven, a história às vezes parecia apenas um pano de fundo para as missões. Aqui, a narrativa é mais coesa e envolvente, com linhas de missão que te puxam para explorar mais sobre os mistérios de Frosthaven. Não vou dar spoilers, mas posso dizer que certos momentos da trama fizeram nosso grupo parar para discutir estratégias e teorias sobre o que estava por vir.
Os tropeços: o que Frosthaven poderia melhorar
Design de cenários
Ah, os cenários… Aqui está o ponto que mais divide os jogadores. Enquanto Gloomhaven equilibrava bem combates táticos e objetivos criativos, Frosthaven parece forçar a barra com missões que dependem de temporizadores e hordas infinitas de inimigos.
Um exemplo que ficou marcado: nossa equipe precisava proteger um ponto no mapa por 8 turnos, enquanto monstros surgiam sem parar. O resultado? Foi menos tático e mais “corra para sobreviver”, o que pode ser frustrante para quem gosta de explorar as habilidades únicas de sua classe.
Essa abordagem pode até funcionar em alguns cenários, mas em outros parece simplesmente injusta, especialmente se a composição do grupo não for ideal. E, sinceramente, ninguém gosta de repetir uma missão de três horas porque o design do cenário é excessivamente punitivo.
Classes equilibradas demais?
Parece estranho reclamar disso, mas o equilíbrio das classes em Frosthaven tira um pouco do charme que Gloomhaven tinha. Lá, era possível construir personagens absurdamente poderosos que transformavam o combate em algo espetacular. Aqui, as classes são tão equilibradas que os números menores de dano tornam as partidas mais longas e dependentes da sorte nos modificadores do baralho.
Por um lado, isso incentiva estratégias criativas. Por outro, pode deixar o jogo mais frustrante quando as cartas simplesmente não estão a seu favor.
A complexidade crescente
Frosthaven não é um jogo fácil de gerenciar, e isso vai além da jogabilidade. A quantidade de regras, mecânicas novas e recursos a serem monitorados pode sobrecarregar até jogadores experientes. Lembra quando você precisava conferir o manual para algo simples em Gloomhaven? Agora, adicione ataques ao posto avançado, eventos sazonais, produção de itens e o manual parece estar sempre na sua mesa.
Veredito final: Frosthaven é para você?
Frosthaven não é só uma continuação de Gloomhaven, é quase uma reinvenção. Ele melhora em alguns aspectos, como a imersão narrativa e a sensação de progresso fora das missões, mas tropeça em outros, como o design dos cenários e a complexidade crescente.
Se você amou Gloomhaven, vai encontrar muita coisa para gostar aqui. Mas esteja preparado: Frosthaven não é um jogo que agrada de imediato. É um compromisso que exige paciência, estratégia e, às vezes, um bom senso de humor para lidar com os momentos frustrantes.
Meu grupo decidiu continuar jogando até o fim, mesmo com as dificuldades. E sabe de uma coisa? Apesar dos tropeços, eu quero ver onde essa jornada vai nos levar. No final das contas, talvez essa seja a magia de Frosthaven: o desafio de superar adversidades, juntos. Nota final: 7/10
Um jogo robusto, mas com arestas que poderiam ser polidas.
Olá, eu sou Pedro Henrique Schunz e tenho uma profunda conexão com os jogos de tabuleiro. Desde nossos primeiros encontros com clássicos familiares até as noites emocionantes de partidas estratégicas com amigos, cada dado lançado e cada carta virada moldaram nossa experiência única. Crescemos com os jogos, aprendemos com eles e, ao longo do caminho, construímos memórias inesquecíveis.