Como alguém que acompanha o mundo dos board games há mais de uma década e já viu de tudo — de campanhas de financiamento coletivo que viraram clássicos até promessas que sumiram como fumaça — eu sempre fico com um pé atrás com projetos muito ambiciosos. Mas preciso confessar: quando Adventures in Neverland apareceu no Kickstarter em 2020, eu fui um dos que torceram de verdade para que desse certo.
A ideia de um jogo de aventura narrativa ambientado no universo de Peter Pan tinha tudo pra ser incrível. Arte linda, temática envolvente, proposta de gameplay rica… e o principal: a paixão visível de sua criadora, Vicky Swers, uma jovem designer da Bélgica que sonhou alto e conseguiu arrecadar meio milhão de euros com o projeto.
Só que, como em tantas outras histórias no mundo dos financiamentos coletivos, a realidade bateu forte.
Em junho de 2025, depois de anos de silêncio e expectativas frustradas, veio o anúncio que ninguém queria ler: a editora Black Box Adventures cancelou oficialmente o projeto. E com isso, centenas de apoiadores ficaram sem jogo e sem respostas claras.
Bastidores de uma Criação: Da Paixão de Vicky Swers ao Silêncio Prolongado
Vicky Swers sempre foi o rosto criativo por trás de Adventures in Neverland. Quem acompanhou a campanha original lembra bem: ela apareceu em vídeos, postagens, mostrando com orgulho cada detalhe da mecânica e da arte do jogo.
Mas o que muita gente talvez não soubesse — e que só ficou claro agora — é que o envolvimento dela era quase totalmente criativo. Questões de produção, logística e principalmente gestão financeira estavam nas mãos da editora, a Black Box Adventures.
Em uma declaração recente no BoardGameGeek, Vicky quebrou o silêncio de anos. De forma muito honesta e vulnerável, ela explicou que ficou à margem das decisões depois da fase de design. Ela não tinha acesso aos fundos arrecadados, tampouco controle sobre os processos de produção e entrega.
Como designer que já trabalhou com editoras, entendo bem o dilema. O papel criativo tem seus limites. E quando começam os atrasos, os problemas de comunicação e a pressão da comunidade, é fácil (e até necessário) se afastar para proteger a própria saúde mental. E foi exatamente o que Vicky fez.
Ela conta que cada mensagem negativa, cada crítica nos fóruns, a afetava profundamente. Sentindo o peso de uma responsabilidade que não era só dela, ela preferiu se recolher. Uma decisão difícil, mas compreensível.
O Futuro de Adventures in Neverland: Existe Uma Luz no Fim da Floresta Encantada?
Agora que o projeto foi oficialmente cancelado, a grande pergunta que paira no ar — e que vejo sendo repetida em grupos de jogos e fóruns online — é: Existe alguma chance de vermos Adventures in Neverland renascer?
A resposta curta: por enquanto, não.
Na declaração mais recente, Vicky deixou claro que os direitos do jogo estão em processo de retorno para ela, mas que ainda há um imbróglio comercial a ser resolvido com a editora. Até que tudo isso seja finalizado, ela não pretende fazer novas declarações ou promessas. E faz muito bem. Depois de tudo que aconteceu, o mínimo que ela merece é ter tempo e espaço para decidir com calma os próximos passos.
Black Box Adventures, por sua vez, também indicou estar disposta a colaborar, mas os detalhes são nebulosos. Não há informações claras sobre reembolsos ou possíveis acordos com apoiadores.
Como jogador, claro que bate aquele sentimento de frustração. Como redator especializado em jogos de tabuleiro, vejo nessa situação um reflexo de algo maior: a urgência de mais transparência e responsabilidade nas campanhas de financiamento coletivo do nosso hobby.
Mas, acima de tudo, fica a torcida para que Vicky Swers, que claramente colocou tanta paixão no projeto, consiga encontrar uma nova forma de dar vida ao seu jogo. Seja por meio de uma nova editora, um relançamento ou até um projeto totalmente diferente.
Enquanto isso, o que nos resta é acompanhar os desdobramentos e, claro, aprender mais uma vez que no mundo dos board games — principalmente no Kickstarter — nem toda aventura termina com final feliz… pelo menos, não de imediato.
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Olá, eu sou Pedro Henrique Schunz e tenho uma profunda conexão com os jogos de tabuleiro. Desde nossos primeiros encontros com clássicos familiares até as noites emocionantes de partidas estratégicas com amigos, cada dado lançado e cada carta virada moldaram nossa experiência única. Crescemos com os jogos, aprendemos com eles e, ao longo do caminho, construímos memórias inesquecíveis.