Quando ouvi falar de Deep Regrets pela primeira vez, confesso que não dei muita bola. Um jogo de pescaria com dados e monstros do mar? Achei que fosse mais um daqueles títulos indie tentando ser "diferentão" no visual, mas esquecendo do jogo em si. Como especialista em jogos de tabuleiro — com mais de 300 títulos jogados, testados e revisitados em noites intensas de jogatina com minha galera e em eventos da comunidade — já aprendi a ter o pé atrás com promessas muito ousadas.
Mas aí veio a surpresa: Deep Regrets não só entregou o que prometeu... como me fisgou completamente.
A proposta pode parecer simples: sair para pescar criaturas marinhas, decidir o que comer, vender, montar ou colecionar — e gerenciar os "arrependimentos" acumulados ao longo do caminho. Mas por trás dessa superfície se esconde um jogo profundo (sem trocadilhos), com decisões táticas, momentos de pura tensão e uma ambientação visual que é uma verdadeira obra de arte viva.
O que era para ser só mais uma jogatina de teste virou uma obsessão. Joguei solo, joguei controlando dois personagens em modo cooperativo, e agora estou de olho na versão física com o entusiasmo de quem sabe que está prestes a colocar as mãos em algo memorável.
E olha que nem começamos a falar dos dados personalizados, do sistema de "madness" que muda tudo, ou das criaturas que fazem Lovecraft parecer um pescador de aquário.
Se você achou que Deep Regrets era só um jogo de pescaria... prepare-se para uma virada de maré.
Vou te contar como foi minha primeira pescaria em Deep Regrets, porque foi ali que percebi o quão genial esse jogo é. Comecei animado, rolagem de dados na mão, ficha de personagem pronta e aquele mar sombrio se abrindo diante de mim no Tabletopia. Achei que era só mirar em um peixe grandão, jogar os dados e torcer. Simples, né?
Nada disso.
Logo percebi que Deep Regrets é um daqueles jogos que te fazem pensar antes, durante e depois da ação. No início de cada turno, você rola seus dados de pesca (os “tackle dice”, que são personalizados e super estilosos). Esses dados determinam sua força naquela rodada — ou seja, o quanto você pode arriscar. A partir disso, você escolhe: fica mais um pouco no mar, tentando pescar algo valioso (e bizarro), ou volta pro porto pra vender, comer peixe, recuperar energia e talvez comprar equipamentos?
Parece simples, mas a tensão é real. Cada decisão tem peso. E a cada nova pescaria, os riscos aumentam — e os arrependimentos também. Literalmente.
O jogo trabalha com um sistema de Regrets Cards, que você acumula conforme lida com peixes cada vez mais esquisitos e revela segredos do fundo do mar. Esses arrependimentos funcionam como uma espécie de insanidade crescente: eles te dão benefícios em forma de dados extras e pontos bônus por peixes raros... mas te cobram caro no final. Porque quem tiver mais Regrets no fim da partida, perde seu peixe mais valioso montado. Um baita golpe no orgulho — e na pontuação.
A estrutura de turnos segue um fluxo que parece confuso na primeira partida (start -> refresh -> declaration -> action), mas que logo se encaixa de forma intuitiva. Digo isso porque, como um bom veterano de mesa, eu fui lá todo confiante... e acabei voltando ao manual umas dez vezes na primeira rodada. Mas tudo bem, faz parte do charme.
Ah, e não posso esquecer da dinâmica de profundidade. O jogo tem três camadas de oceano — rasa, média e profunda — e quanto mais fundo você for, mais recompensas pode encontrar... e mais consequências também. Algumas cartas têm efeitos de revelação que impactam todos os jogadores, espalhando loucura como um vazamento de óleo psicodélico.
A cada nova decisão, você sente aquele frio na espinha: será que arrisco? Será que volto? Será que minha sanidade aguenta mais um turno? E essa é justamente a graça. Deep Regrets consegue te prender num ciclo viciante de risco e recompensa, sempre com uma pitada de sorte, mas sem jamais abandonar a estratégia.
No fim das contas, não é só um jogo de pesca. É um teste de coragem. Um jogo sobre saber a hora de parar. Ou não.
Você já jogou algum jogo que te fez parar no meio do turno só pra admirar uma carta? Tipo, esquecer completamente que estava tentando otimizar pontos porque ficou hipnotizado por uma ilustração? Foi exatamente isso que aconteceu comigo em Deep Regrets.
A arte do jogo é assinada por Judson Cowan, e meu amigo, que trabalho. Ele fez todo o traço à mão e depois coloriu usando o Procreate. O resultado é uma estética que mistura o grotesco com o belo, o realista com o absurdo — e funciona perfeitamente dentro da proposta do jogo. É como se alguém tivesse cruzado um documentário de pesca da National Geographic com um pesadelo lovecraftiano.
Cada peixe tem personalidade. Não só pelo nome e pela pontuação, mas pelo visual. Alguns são bizarros, outros engraçados, muitos são genuinamente perturbadores. Lembro de quando revelei meu primeiro peixe profundo e fiquei encarando a carta como se estivesse olhando pra uma criatura real. Tive uma leve crise existencial. "Como é que isso pode ter saído da minha rolagem de dados?"
E o mais legal é que a ambientação vai além do visual. Ela está nas mecânicas, nos efeitos das cartas, nos itens que você compra no porto (sim, tem uma corda com anzol infinito que beira a insanidade) e nas consequências que surgem quando você tenta ir fundo demais. Cada parte do jogo contribui pra criar essa atmosfera de tensão silenciosa — aquela mesma que a gente sente em filmes de terror que não gritam, mas sussurram no escuro.
Até o tabuleiro segue esse clima: o oceano se estende em camadas, e cada uma parece mais densa, mais escura, mais… errada. Você sente o peso do desconhecido, mesmo jogando digitalmente. Aliás, eu joguei minha primeira partida no Tabletopia, e mesmo com as limitações da plataforma, a arte do jogo fez tudo valer a pena. Não dava pra mexer em todos os decks com facilidade? Ok. Mas quando você tá olhando pro seu baralho de Regrets e vê o desenho de um olho cavernoso no fundo de um peixe que parece uma mistura de enguia e pesadelo, isso meio que compensa tudo.
E é aí que Deep Regrets se destaca: ele não tenta só te divertir — ele quer te envolver, te inquietar, te fazer pensar duas vezes antes de virar a próxima carta. É aquele tipo de jogo que fica na sua cabeça depois da partida, não só pelas estratégias, mas pelas sensações que provoca.
Se você é do tipo que curte jogos com tema forte, que entregam uma experiência narrativa e visual intensa, esse aqui vai direto pro topo da sua lista. Mas prepare-se. Porque encarar o abismo de Deep Regrets pode te mudar um pouco. Ou muito.
Se você é do tipo que curte experiências solo ou campanhas longas, Deep Regrets tem um presente pra você: o modo de jogo solitário é mais do que um quebra-galho — é uma jornada.
No modo solo, você assume o papel de um ictiólogo obcecado por catalogar todas as criaturas marinhas, jogando uma campanha que pode durar dezenas de partidas. A cada jogo, você tenta capturar peixes diferentes e registrar suas características em uma folha de catálogo — um verdadeiro diário de campo das profundezas. Só que existe um porém: ao fim de cada partida, você precisa descartar uma quantidade de peixes proporcional aos seus Regrets. Ou seja, quanto mais fundo você for, maior a chance de voltar sem nada... ou pior, com a mente em frangalhos.
Essa mecânica me pegou de jeito. Como jogador competitivo, meu instinto é maximizar resultados, mas aqui, você precisa pensar em longo prazo, planejar sua jornada científica e emocional, e aceitar que nem toda pescaria será bem-sucedida.
Rejogabilidade? Tem de sobra. Os decks de peixe, itens e eventos garantem uma variação gigantesca entre partidas. Além disso, as estratégias mudam completamente dependendo do personagem, dos dados que você rola, do que está disponível no porto e da quantidade de Regrets que você já acumulou.
Duas abordagens que testei e curti muito:
Ambos os estilos são viáveis, e é isso que torna Deep Regrets tão especial: ele te permite jogar do seu jeito — e pagar o preço por isso.
Se você procura um jogo de tabuleiro que ofereça uma mistura única de estratégia, narrativa emergente, arte incrível e uma pitada de loucura, Deep Regrets é mais do que recomendado — é obrigatório.
Ele foge do convencional, provoca seus jogadores, e entrega uma experiência memorável tanto em grupo quanto solo. Não é um jogo para quem só quer relaxar jogando — ele exige atenção, planejamento e, às vezes, coragem. Mas é exatamente isso que o torna tão recompensador.
Então, a pergunta final: eu me arrependi de ter mergulhado nesse oceano escuro?
Nem um pouco. E mal posso esperar pra voltar lá.
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